segunda-feira, 23 de março de 2015


APÓS A MASSIFICAÇÃO ELEITORAL, O QUE ESPERAR DE MAIS QUATRO ANOS COM O PT NO GOVERNO?

Teones França – Historiador (4/11/2014)

(PARTE I)
 
 
 
 

Uma vitória parcial do PT

                Ao todo, foram quatro meses de campanha eleitoral. Pareceu uma eternidade ou uma demonstração de teorema, como diria Renato Russo: “parece que sempre termina, mas não tem fim!”. Durante 120 dias fomos sufocados por discursos vazios e falsas verdades, sempre ditos em nome da melhora do país e da vida da população. Diante desse rolo compressor as pessoas acabaram se envolvendo de corpo e alma, especialmente nas redes sociais. Agora, após a campanha ter chegado ao fim, rapidamente os ânimos serão arrefecidos, o ódio amainado e, assim como ocorreu com a Copa do Mundo, em poucas semanas não se falará mais nisso. Contudo, precisamos tirar lições do processo e analisar as perspectivas que se colocarão para o país no próximo período.

                Em nível nacional, a disputa foi extremamente acirrada no segundo turno e o país dividiu-se ao meio. Dilma reelegeu-se por uma pequena margem de diferença, mas o seu principal adversário não foi Aécio Neves e sim o antipetismo. O PT garantiu mais quatro anos na presidência sem precisar utilizar o seu principal jogador (Lula), o que sinaliza para a possibilidade de obter mais uma vitória em 2018. Entretanto, até lá teremos mais de 1400 dias de um novo governo Dilma, que possivelmente enfrentará uma oposição muito mais feroz do que a dos primeiros quatro anos e que lhe exigirá uma política mais conciliatória. Ademais, é necessário que avaliemos o resultado eleitoral como uma vitória petista apenas parcial já que o partido perdeu espaço no centro-sul, tendo saído das urnas com apenas um governador num estado de ponta: Minas Gerais.

                O chamado “petrolão” deu um molho especial à campanha. Mais um escândalo de corrupção num governo petista, somado aos anteriores e às práticas explícitas de aparelhamento da máquina estatal pelo partido (quem conheceu os sindicatos dirigidos pela Articulação não se surpreendeu com isso) levaram a classe média a um ódio quase mortal ao PT. Esse cenário associado à massificação eleitoreira da mídia fez com que o Brasil rachasse no segundo turno a partir da criação da falsa imagem de que haveria uma polarização na disputa eleitoral entre dois candidatos que representariam dois projetos antagônicos.

                Pela primeira vez os petistas iniciarão um governo de modo envergonhado. Não possuem mais o apoio incondicional dos movimentos sociais (que foram chamados às pressas na reta final de campanha para ajudar a impedir a vitória tucana) e já não têm a mesma moral de antes perante a sociedade no que diz respeito à ética e ao bom gerenciamento da máquina pública. É certo que adotarão táticas menos arrogantes e independentistas, pois caso contrário os gritos de impeachment para a presidente podem ecoar mais fortes (embora nem de longe seja este o desejo da burguesia brasileira) e uma nova eleição em 2018 ficará mais distante. É bem provável também que para acalmar os seus críticos coloquem em prática as reformas tributária, trabalhista e política, que, podemos apostar, significarão mais ataques para a classe trabalhadora e seus partidos de menor representação parlamentar.

 


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