O que
esperar das primeiras eleições após as manifestações contra a corrupção? (PARTE III)
Teones França –
Historiador (21/7/2014)
O “voto certo” pode melhorar nossas vidas?
Consequência
direta da história política brasileira, nos poucos períodos em que nossa
democracia permitiu que eleições acontecessem as pessoas acreditaram que
política é algo a ser exercido meramente por políticos, identificados por elas como
os ricos e poderosos. Nesse sentido o voto foi sendo banalizado a ponto de ser
vendido por alguns trocados, uma fornada de tijolos, um jogo de camisas de
futebol ou, mais recentemente, trocado pela bolsa-família, expressando que a
população trabalha com a seguinte lógica: “se sou obrigado a fazer parte desse
circo, que seja para ganhar alguma recompensa” já que – infelizmente, talvez –
é característica do brasileiro sempre querer ser mais “malandro” que os outros.
Também existem aqueles que concedem seus votos aos amigos (não é por coincidência
que muitos candidatos se identifiquem como “o seu amigo”), pois se é para
“alguém se arrumar” que seja um conhecido.
Assim, à
exceção dos partidos criados a partir de uma ideologia, mas que possuem pouca
influência eleitoral – e, por isso, são chamados preconceituosamente de nanicos
–, as mais de trinta siglas oficialmente existentes no Brasil atual são meras
legendas eleitoreiras, com programas muito parecidos, onde o que define o apoio
a um governante é o quanto este irá pagar ou o cargo que irá oferecer. As
alianças entre as legendas partidárias realizadas previamente às eleições
também demonstram essa total falta de critério programático e, por conseguinte,
não sabemos mais se ainda há partidos de esquerda ou de direita, eles se
diferenciam apenas por fazer parte ou não dos governos. A tão falada reforma
política não será a solução para alterar esse quadro e dar mais confiança ao
eleitor de que o seu voto pode realmente fazer a diferença e modificar para
melhor a situação do país, conforme é dito pelos artistas em propagandas pela
TV, nas quais teimam em culpar o eleitor por todos os problemas sociais
vivenciados pelo Brasil porque estaria votando errado. Nesse raciocínio
estreito o voto seria o único meio para pôr o país em outros trilhos.
Nos últimos
pleitos, parte do eleitorado, acreditando nessa ideia, tem buscado alterar esse
quadro através da renovação, procurando eleger políticos que não sejam
“profissionais”. Porém, ao analisarmos superficialmente o cenário político
brasileiro percebemos que a renovação é rara. Os grandes caciques ainda ditam
as regras. O maior exemplo disso talvez seja José Sarney, que exerce algum tipo
de mandato desde o regime militar, quando fazia parte da ARENA, foi o primeiro
presidente do período posterior a essa ditadura e permanece desde então sempre
ocupando alguma cadeira no parlamento, mesmo que para isso tivesse até que
mudar seu domicílio do Maranhão para o Amapá. No entanto, caso a renovação
fosse total, da mesma maneira nada seria alterado, pois não há diferença entre
os partidos com reais chances de conquistar os principais cargos e, dessa forma,
sempre teremos mais do mesmo. As instituições estão em xeque e querem nos fazer
crer que o culpado pelas nossas mazelas é o eleitor e não a falência do
conjunto do sistema político que precisa seguir favorecendo a minoria burguesa.
Com certeza
será bastante difícil que algum candidato na eleição de outubro próximo – mesmo
aqueles dos partidos que se reivindicam socialistas – consiga chacoalhar o
sentimento de apatia eleitoral que impera entre os brasileiros a ponto de
fazê-los acreditar novamente que o seu voto pode realmente melhorar o Brasil e
as suas vidas. Porque é fato que a maioria absoluta do povo não aguenta mais
ver e ouvir horário político eleitoral onde todos, sem exceção, afirmam ser
pela educação e pela saúde. No entanto, passada a eleição, a escola pública
segue com qualidade duvidosa e os hospitais oferecem péssimo atendimento aos
que não podem pagar por uma saúde “padrão-Fifa”. Ao que tudo indica, parece também
não haver mais espaço para que candidatos peçam votos por se declararem “éticos
e contra a corrupção” – slogan que aparece até mesmo no campo socialista –,
mesmo porque ser ético e crítico da corrupção nada mais é que obrigação de todos,
seja candidato ou não e, portanto, não deveria ser apresentado como um critério
para definir em quem iremos votar.
Entender
que política não é algo restrito aos políticos parlamentares de terno e
gravata, mas que deve ser feita por todos já que tudo é consequência dela; da
mesma forma, não acreditar que o voto é nossa única arma e, ao mesmo tempo, compreender
que as melhorias sociais só serão alcançadas através das mobilizações dos
setores populares, como nos ensinaram as jornadas de junho ano passado, é o
caminho a ser trilhado para se alcançar uma vida melhor, ao menos para os mais
pobres.