terça-feira, 22 de julho de 2014

DEPOIS DA COPA VEM A DISPUTA PELO VOTO.


O que esperar das primeiras eleições após as manifestações contra a corrupção?   (PARTE I)           
Teones França – Historiador       (21/7/2014)

                De antemão deixo claro que tratarei a seguir do tema das eleições sem aprofundar a questão teórica, no entanto, parto do pressuposto de que se trata de um processo que deve ser enquadrado no terreno burguês. Não devemos esquecer, contudo, que os partidos que se reivindicam representantes dos trabalhadores estão participando cada vez mais ativamente desses pleitos, fato que merece uma reflexão específica, o que será feito na 4ª e última parte.

Em junho de 2013, ouvimos muitos políticos brasileiros afirmarem que estavam impactados com a “voz das ruas”. Da Presidente aos vereadores, todos saíram com suas imagens chamuscadas após as manifestações que levaram milhares a protestarem contra a Copa, a corrupção, a falta de investimentos sociais ou, como muitos cartazes indicavam, “contra tudo o que está aí”.
                O que os manifestantes deixaram claro é que a população está cansada de acreditar em promessas de candidatos às vésperas de eleições, assim como não confia mais nos nossos políticos e nas instituições (Congresso Nacional, Justiça, Polícia etc.). A exceção, talvez, ainda seja o Supremo Tribunal de Federal a partir da atuação de Joaquim Barbosa no processo do Mensalão.
                O escândalo do Mensalão, ao lado de outros casos de corrupção, como o superfaturamento dos estádios da Copa e o constante desvio de verbas nos serviços públicos em geral, sempre envolvendo políticos, aumentaram a incredulidade de que as eleições podem realmente alterar nossa vida para melhor.

A culpa é do povo por não saber votar?
                A insatisfação e falta de confiança do eleitor já havia sido percebida nas últimas eleições em nosso país. Analisando friamente os números observamos que a quantidade de abstenções – as pessoas que se negam a ir votar – é muito grande. No pleito para prefeito de 2012, em muitas cidades grandes, somados os votos nulos e brancos com as abstenções, tivemos um total que chegou a ser superior a votação dos eleitos. Ou seja, os que ainda crêem que o processo eleitoral pode melhorar a sua vida e a situação de seu município estão em número menor do que aqueles que, quando se prestam a ir à urna exercer o seu direito de voto – que, na realidade, é um dever –, se negam a escolher algum candidato. Certamente, essas pessoas também não acreditavam que as eleições pudessem melhorar a situação do país.
                Para efeito de comparação, é interessante atentarmos para o fato de que há trinta anos manifestações ocorreram nas principais capitais brasileiras levando milhões às ruas para exigir justamente o retorno do direito de votar para eleger o Presidente da República e o prefeito de cidades que eram consideradas pela ditadura militar Área de Segurança Nacional, como era o caso de Duque de Caxias. Nos vinte e um anos em que os militares estiveram no poder – entre 1964 e 1985 – esse voto popular não fora permitido. Bastaram três décadas para que o anseio de votar demonstrado naquela época se transformasse num estorvo para uma parcela considerável de nossa população.
                Não podemos, contudo, culpar o povo por isso. A responsabilidade única e exclusivamente deve recair sobre a classe política e o sistema burguês que fizeram da democracia ressurgida após a ditadura militar um mero jogo de “toma lá, dá cá” em que os interesses de sua sigla partidária e dos setores da elite aos quais representam estão sempre à frente do interesse da coletividade. Nosso sistema político permite, por exemplo, que um partido apoie uma candidatura ou um projeto do governo no Congresso Nacional em troca de um Ministério ou de cargos importantes no segundo escalão que possibilitarão a essa legenda partidária arrecadar milhões – nem sempre de maneira lícita – para sustentar seus privilégios e futuras campanhas eleitorais milionárias de candidatos desse partido. Por isso, esse sistema já está sendo denominado por alguns como “presidencialismo de coalizão”.

                A cada eleição uma dúvida vem se transformando em certeza. Com o passar dos anos parece mais verdadeiro para o nosso povo que o sistema político brasileiro é tão viciado – e viciante – que independentemente de quem seja eleito, rico ou pobre, corrupto ou não, as melhorias, caso aconteçam, serão ínfimas. Obviamente, a experiência com o Mensalão contribuiu muito para que essa percepção se tornasse predominante já que o partido que esteve envolvido era justamente aquele que outrora enaltecia a ética, criticava a corrupção com veemência e se apresentava como um defensor dos interesses dos trabalhadores. O governo de Lula, ao trazer para o cenário político brasileiro aspectos tão conhecidos em governos anteriores como a corrupção explícita, a troca de favores com políticos tradicionais e conservadores e os lucros desenfreados para banqueiros e empresários só fez aumentar em nossa população a imagem de que todos os políticos são iguais, embora possam estar, por conveniência, em partidos distintos.

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