O que
esperar das primeiras eleições após as manifestações contra a corrupção? (PARTE I)
Teones França – Historiador (21/7/2014)
De antemão deixo claro que tratarei a seguir do tema
das eleições sem aprofundar a questão teórica, no entanto, parto do pressuposto
de que se trata de um processo que deve ser enquadrado no terreno burguês. Não
devemos esquecer, contudo, que os partidos que se reivindicam representantes
dos trabalhadores estão participando cada vez mais ativamente desses pleitos,
fato que merece uma reflexão específica, o que será feito na 4ª e última parte.
Em junho de
2013, ouvimos muitos políticos brasileiros afirmarem que estavam impactados com
a “voz das ruas”. Da Presidente aos vereadores, todos saíram com suas imagens
chamuscadas após as manifestações que levaram milhares a protestarem contra a
Copa, a corrupção, a falta de investimentos sociais ou, como muitos cartazes
indicavam, “contra tudo o que está aí”.
O que os manifestantes deixaram claro é que a
população está cansada de acreditar em promessas de candidatos às vésperas de
eleições, assim como não confia mais nos nossos políticos e nas instituições
(Congresso Nacional, Justiça, Polícia etc.). A exceção, talvez, ainda seja o
Supremo Tribunal de Federal a partir da atuação de Joaquim Barbosa no processo
do Mensalão.
O escândalo do Mensalão, ao lado de outros casos de
corrupção, como o superfaturamento dos estádios da Copa e o constante desvio de
verbas nos serviços públicos em geral, sempre envolvendo políticos, aumentaram
a incredulidade de que as eleições podem realmente alterar nossa vida para
melhor.
A culpa é do povo por não saber votar?
A insatisfação e falta de confiança do eleitor já
havia sido percebida nas últimas eleições em nosso país. Analisando friamente os
números observamos que a quantidade de abstenções – as pessoas que se negam a
ir votar – é muito grande. No pleito para prefeito de 2012, em muitas cidades
grandes, somados os votos nulos e brancos com as abstenções, tivemos um total
que chegou a ser superior a votação dos eleitos. Ou seja, os que ainda crêem
que o processo eleitoral pode melhorar a sua vida e a situação de seu município
estão em número menor do que aqueles que, quando se prestam a ir à urna exercer
o seu direito de voto – que, na realidade, é um dever –, se negam a escolher
algum candidato. Certamente, essas pessoas também não acreditavam que as
eleições pudessem melhorar a situação do país.
Para efeito de comparação, é interessante atentarmos para
o fato de que há trinta anos manifestações ocorreram nas principais capitais
brasileiras levando milhões às ruas para exigir justamente o retorno do direito
de votar para eleger o Presidente da República e o prefeito de cidades que eram
consideradas pela ditadura militar Área de Segurança Nacional, como era o caso
de Duque de Caxias. Nos vinte e um anos em que os militares estiveram no poder –
entre 1964 e 1985 – esse voto popular não fora permitido. Bastaram três décadas
para que o anseio de votar demonstrado naquela época se transformasse num
estorvo para uma parcela considerável de nossa população.
Não podemos, contudo, culpar o povo por isso. A
responsabilidade única e exclusivamente deve recair sobre a classe política e o
sistema burguês que fizeram da democracia ressurgida após a ditadura militar um
mero jogo de “toma lá, dá cá” em que os interesses de sua sigla partidária e
dos setores da elite aos quais representam estão sempre à frente do interesse
da coletividade. Nosso sistema político permite, por exemplo, que um partido apoie
uma candidatura ou um projeto do governo no Congresso Nacional em troca de um
Ministério ou de cargos importantes no segundo escalão que possibilitarão a
essa legenda partidária arrecadar milhões – nem sempre de maneira lícita – para
sustentar seus privilégios e futuras campanhas eleitorais milionárias de
candidatos desse partido. Por isso, esse sistema já está sendo denominado por
alguns como “presidencialismo de coalizão”.
A cada eleição uma dúvida vem se transformando em
certeza. Com o passar dos anos parece mais verdadeiro para o nosso povo que o
sistema político brasileiro é tão viciado – e viciante – que independentemente
de quem seja eleito, rico ou pobre, corrupto ou não, as melhorias, caso
aconteçam, serão ínfimas. Obviamente, a experiência com o Mensalão contribuiu
muito para que essa percepção se tornasse predominante já que o partido que esteve
envolvido era justamente aquele que outrora enaltecia a ética, criticava a
corrupção com veemência e se apresentava como um defensor dos interesses dos
trabalhadores. O governo de Lula, ao trazer para o cenário político brasileiro
aspectos tão conhecidos em governos anteriores como a corrupção explícita, a
troca de favores com políticos tradicionais e conservadores e os lucros
desenfreados para banqueiros e empresários só fez aumentar em nossa população a
imagem de que todos os políticos são iguais, embora possam estar, por
conveniência, em partidos distintos.
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