Teones França , historiador e professor da rede estadual do RJ
Fundada em agosto de 1983, como uma culminância das lutas sindicais iniciadas pelos metalúrgicos do ABC paulista em fins dos anos 1970, a Central Única dos Trabalhadores escreveu uma importante página na história do movimento sindical brasileiro, especialmente na década de oitenta, quando protagonizou diversas mobilizações contra o Estado ditatorial, já em seu momento derradeiro, e contra os ataques burgueses aos trabalhadores, ataques que não cessaram com o fim do regime militar.
Foi justamente naquela década que surgiu – apesar de ter ficado por lá mesmo – o que talvez tenha sido a sua maior contribuição: ser um ponto de referência para os trabalhadores do Brasil, indicando-lhes que muitos inimigos da sua classe social compunham a unidade contra os militares e que, portanto, o fim desse regime significara apenas o começo das jornadas de luta que ainda estavam por vir. Infelizmente, esse caráter classista da central se perdeu ao longo dos anos noventa.
Apenas seis homens ocuparam até o momento o cargo de presidente da CUT em seus 30 anos de vida. Muitos não sabem, mas a principal expressão do nosso sindicalismo, Luis Inácio Lula da Silva, que tem sua trajetória de militância se confundindo com a da própria CUT, nunca presidiu a central, apesar de em dados momentos ter agido como sua eminência parda.
Lula, sentado ao chão, come entre os participantes do Congresso que fundou a CUT |
Componentes da primeira Executiva Nacional da CUT. Entre eles : Jair Meneguelli,
Paulo Paim (atual senador /PT) e Delúbio Soares (um dos mensaleiros).
|
Vejamos quem são os
seis.
Jair Meneguelli – Metalúrgico do ABC,
primeiro presidente da CUT, central da qual esteve à frente entre 1983 e 1994,
tendo sido reeleito em duas ocasiões. Atualmente é presidente do Conselho
Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi).
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho – Metalúrgico do ABC.
Presidiu a CUT entre 1994 e 2000, tendo sido reeleito uma vez. Hoje é deputado
Federal pelo PT.
João Antonio Felício – Professor, foi presidente dessa
central entre 2000 e 2003. Atualmente é Secretário de Relações Internacionais
da CUT. Tenta tornar-se presidente da Central Sindical Internacional (CSI) em
2014.
Luis Marinho – Metalúrgico do ABC, presidiu a CUT entre 2003
e 2006. Foi Ministro do Trabalho por um período no governo Lula e atualmente é
prefeito de São Bernardo do Campo pelo PT.
Arthur Henrique da Silva Santos – eletricitário e sociólogo,
foi presidente dessa central entre 2006 e 2012, tendo sido reeleito uma vez.
Atualmente coordena o Instituto de Cooperação Internacional da CUT.
Vagner Freitas – bancário. Atual presidente da CUT, eleito
em 2012.
Temos, assim, que
uma vez eleito para ocupar o cargo de dirigente máximo dessa central em nível
nacional, sua carreira pública torna-se infinita.
Desses 30 anos da
CUT os últimos dez foram marcados pelo aprofundamento de sua relação simbiótica
com o PT em função da chegada desse partido à presidência da República. Para
muitos a partir de então a central tornou-se chapa branca. Vagner Freitas não enxerga dessa forma, apesar de
concordar que a relação cutista com o governo federal mudou após o governo
Lula. Segundo ele, isso se deu porque "Lula
é fruto da luta da CUT", e tornou-se "o maior exemplo do sindicalismo cutista". Sendo assim, a
central não poderia tratar o seu governo, como também o de Dilma, "da mesma forma que o Meneguelli tratou
os militares, o Sarney e o Collor, nem como o Vicentinho tratou com FHC".
Para Freitas o que explica essa mudança é que "os tempos são outros".
Entretanto, fica
difícil percebermos tanta diferença entre Dilma e FHC quando observamos o
leilão da Bacia de Libra realizado pelo governo federal esta semana. Os tempos
até podem ser outros mas a sensação de déjà
vu torna-se iminente quando agora lembramos do ano de 1995 e do ataque
feroz de Fernando Henrique à greve dos petroleiros que tinha como uma de suas
bandeiras a defesa do monopólio estatal do petróleo, que chegava ao fim
justamente naquele momento.
Por outro lado, foi
fácil percebermos a ausência de faixas e cartazes cutistas, assim como de seus
principais dirigentes, nas recentes manifestações contra o leilão de Libra. Se
em 1995 a
central foi uma das principais articuladoras da luta para que o petróleo
brasileiro se mantivesse longe das garras das petrolíferas estrangeiras, em
2013 os poucos discursos de seus dirigentes contra a continuação da entrega das
riquezas do subsolo brasileiro foram mera retórica.