quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Nos 30 anos de vida da CUT por onde andam seus ex-presidentes e o ímpeto inicial da central?

                                                  Teones França , historiador e professor da rede estadual do RJ 

         Fundada em agosto de 1983, como uma culminância das lutas sindicais iniciadas pelos metalúrgicos do ABC paulista em fins dos anos 1970, a Central Única dos Trabalhadores escreveu uma importante página na história do movimento sindical brasileiro, especialmente na década de oitenta, quando protagonizou diversas mobilizações contra o Estado ditatorial, já em seu momento derradeiro, e contra os ataques burgueses aos trabalhadores, ataques que não cessaram com o fim do regime militar.

 Foi justamente naquela década que surgiu – apesar de ter ficado por lá mesmo – o que talvez tenha sido a sua maior contribuição: ser um ponto de referência para os trabalhadores do Brasil, indicando-lhes que muitos inimigos da sua classe social compunham a unidade contra os militares e que, portanto, o fim desse regime significara apenas o começo das jornadas de luta que ainda estavam por vir. Infelizmente, esse caráter classista da central se perdeu ao longo dos anos noventa.

   Apenas seis homens ocuparam até o momento o cargo de presidente da CUT em seus 30 anos de vida. Muitos não sabem, mas a principal expressão do nosso sindicalismo, Luis Inácio Lula da Silva, que tem sua trajetória de militância se confundindo com a da própria CUT, nunca presidiu a central, apesar de em dados momentos ter agido como sua eminência parda.
Lula, sentado ao chão, come entre os participantes do Congresso que fundou a CUT

Componentes da primeira Executiva Nacional da CUT. Entre eles : Jair Meneguelli, 
Paulo Paim (atual senador /PT) e Delúbio Soares (um dos mensaleiros).
Meneguelli, à esquerda, discursa no Congresso de fundação da central.

Vejamos quem são os seis.
 Jair Meneguelli – Metalúrgico do ABC, primeiro presidente da CUT, central da qual esteve à frente entre 1983 e 1994, tendo sido reeleito em duas ocasiões. Atualmente é presidente do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi).

Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho – Metalúrgico do ABC. Presidiu a CUT entre 1994 e 2000, tendo sido reeleito uma vez. Hoje é deputado Federal pelo PT.

João Antonio Felício – Professor, foi presidente dessa central entre 2000 e 2003. Atualmente é Secretário de Relações Internacionais da CUT. Tenta tornar-se presidente da Central Sindical Internacional (CSI) em 2014.

Luis Marinho – Metalúrgico do ABC, presidiu a CUT entre 2003 e 2006. Foi Ministro do Trabalho por um período no governo Lula e atualmente é prefeito de São Bernardo do Campo pelo PT.

Arthur Henrique da Silva Santos – eletricitário e sociólogo, foi presidente dessa central entre 2006 e 2012, tendo sido reeleito uma vez. Atualmente coordena o Instituto de Cooperação Internacional da CUT.

Vagner Freitas – bancário. Atual presidente da CUT, eleito em 2012.

   Temos, assim, que uma vez eleito para ocupar o cargo de dirigente máximo dessa central em nível nacional, sua carreira pública torna-se infinita.

   Desses 30 anos da CUT os últimos dez foram marcados pelo aprofundamento de sua relação simbiótica com o PT em função da chegada desse partido à presidência da República. Para muitos a partir de então a central tornou-se chapa branca. Vagner Freitas não enxerga dessa forma, apesar de concordar que a relação cutista com o governo federal mudou após o governo Lula. Segundo ele, isso se deu porque "Lula é fruto da luta da CUT", e tornou-se "o maior exemplo do sindicalismo cutista". Sendo assim, a central não poderia tratar o seu governo, como também o de Dilma, "da mesma forma que o Meneguelli tratou os militares, o Sarney e o Collor, nem como o Vicentinho tratou com FHC". Para Freitas o que explica essa mudança é que "os tempos são outros".

   Entretanto, fica difícil percebermos tanta diferença entre Dilma e FHC quando observamos o leilão da Bacia de Libra realizado pelo governo federal esta semana. Os tempos até podem ser outros mas a sensação de déjà vu torna-se iminente quando agora lembramos do ano de 1995 e do ataque feroz de Fernando Henrique à greve dos petroleiros que tinha como uma de suas bandeiras a defesa do monopólio estatal do petróleo, que chegava ao fim justamente naquele momento.

   Por outro lado, foi fácil percebermos a ausência de faixas e cartazes cutistas, assim como de seus principais dirigentes, nas recentes manifestações contra o leilão de Libra. Se em 1995 a central foi uma das principais articuladoras da luta para que o petróleo brasileiro se mantivesse longe das garras das petrolíferas estrangeiras, em 2013 os poucos discursos de seus dirigentes contra a continuação da entrega das riquezas do subsolo brasileiro foram mera retórica.

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