segunda-feira, 1 de setembro de 2014

QUAL É O PAPEL DOS SOCIALISTAS NAS ELEIÇÕES?

Parte II/II
Teones França – Historiador  (25/8/2014)



 Além da decisão equivocada de participar dessas eleições ao invés de adotar uma política que vise aprofundar a crise de representatividade pela qual passa o sistema político brasileiro, os partidos de esquerda, que ainda propagandeiam a possibilidade de uma sociedade socialista – uns mais outros menos –, fazem uma campanha que tem deixado muito a desejar e que está, em grande medida, bem longe do ideal socialista. Vejamos rapidamente a atuação de cada um desses partidos que, inacreditavelmente, ainda estão desunidos em candidaturas distintas para os cargos majoritários.
O PSOL tem como um de seus slogans a frase “temos os melhores candidatos” ou como diz um candidato que atualmente é deputado federal pelo partido: “eu voto em fulano porque ele é disparado o melhor”. Ou seja, não se preocupa em apresentar nenhuma diferenciação de classe e, com isso, iguala-se aos demais candidatos dos partidos burgueses os quais pedem votos porque se autointitulam os melhores. Outro candidato desse partido, com maior expressão pública, pede votos para um postulante ao cargo de senador afirmando que ele “é um novo nome para combater a velha política”. Como assim? Basta votar nos candidatos do PSOL que a velha política será extinta? Que velha política é essa? Será a de políticos burgueses? Não sabemos, porque o partido não se preocupa com esse tipo de diferenciação.
Esse partido ainda utiliza uma frase do dramaturgo socialista alemão Bertolt Brecht para apresentar uma face mais à esquerda. No entanto, diante da campanha de cunho mais socialdemocratizante do que o PT nos melhores tempos ficamos sem saber como que a mudança, defendida pelos pessolistas com a frase “nada deve parecer impossível de mudar”, poderá ser alcançada. Será que apenas com a eleição?
A possibilidade concreta de esse partido eleger novos parlamentares, já que conta em seu staff com deputados bastante populares, pode estar direcionando sua campanha mais à direita para que o seu discurso se torne mais palatável aos setores de classe média menos afeitos às propostas ditas “radicais”. Ao contrário do PSOL, os outros partidos da esquerda, certamente por terem menos chance de eleger seus candidatos, aplicam na campanha um tom mais agressivo e mais próximo a um viés socialista, como a estatização dos transportes, a tarifa zero e a reestatização das empresas privatizadas. Entretanto, não se eximem de cometer mais equívocos.
O PCO, em seus programas, defende o socialismo e até a revolução, mas utiliza uma linguagem que só é entendível para uma pequena vanguarda, vanguarda esta que acredita que as eleições de nada servem e é possível que nem se obrigue a ir votar. Sem contar que em poucos segundos nem o melhor jornalista do mundo conseguiria tornar essa temática palatável a um público amplo.
O PCB também utiliza seus poucos segundos diários para fazer a defesa da revolução que levará a ascensão de um poder popular. O que isso significa e como construir isso? Apenas os militantes do partido devem saber.
Já o PSTU tem o mérito de defender a necessidade de se construir “um governo dos trabalhadores, sem patrões”, mas não diz como e ao que tudo indica para se chegar a tal governo basta votar nos candidatos do partido. Esquiva-se de tratar das questões mais teóricas, procurando apresentar seu ponto de vista crítico sobre aspectos da atualidade, mas como almeja dialogar com apenas um setor minoritário da sociedade faz esquisitices do tipo em seu primeiro programa televisivo tratar da guerra no Oriente Médio. Tema de extrema relevância e mais fundamental ainda quando se exige na TV que o governo Dilma rompa com Israel. No entanto, fazer isso no início da campanha televisiva, quando a população está esperando ouvir propostas para a resolução dos problemas do país, soa como uma total falta de sensibilidade.
O fato é que NENHUM desses partidos fez até o momento e nem fará críticas ao sistema eleitoral e à incapacidade desse processo melhorar as vidas das pessoas. Também não apontarão como positivo que ao menos 20% dos eleitores se neguem a votar e que outros tantos anularão seu voto, esquecendo-se do real papel dos socialistas nas eleições: propagandear que as eleições não melhoram a vida da população mais pobre e que as mudanças sociais só virão através da luta nas ruas.
Nem todos fazem como o PSOL, afirmando que têm os melhores candidatos, mas TODOS chamam o voto em seus candidatos, acabando por corroborar com o sistema e sua intenção de que as eleições sejam um sucesso de público.