REALIDADE E
ILUSÕES SOBRE A EDUCAÇÃO LIBERTADORA E OS FUTUROS ENFRENTAMENTOS DOS EDUCADORES
COM O ESTADO
Teones França –
Historiador (17/12/2014)
(Parte I/II)
Fico
apreensivo quando observo educadores caracterizarem a educação como libertadora,
sob o ponto de vista do senso comum, ou seja, entendendo que ela possa libertar
social e/ou economicamente.
Deixo claro,
de antemão, de que maneira considero esse termo aceitável: na lógica original
de Paulo Freire, cuja concepção prevê que o processo de educação pressupõe
tanto a etapa de desvelamento de uma realidade quanto a prática de
transformação desta. Introduzo essa discussão aqui apenas como uma análise
prévia para apresentar pequena contribuição a respeito da atualidade da
educação pública de 1º e 2º segmentos, em especial no que tange às escolas
estaduais do RJ; e possíveis táticas de enfrentamento com os governos para o
próximo período.
“Estude para ser alguém na vida”. Ainda vemos
professores aconselhando assim seus alunos. Crer que a educação possa libertar
economicamente é risível diante da extrema competitividade no mundo atual, onde
o mercado de trabalho é um gargalo estreito, mesmo para os diplomados. Foi-se o
tempo em que “canudo” significava ascensão social”.
É ilusória também a crença na libertação social através
dessa educação. Muitos dizem que ela pode desenvolver a consciência crítica nos
indivíduos. “Depois de 20 anos na escola, não é difícil aprender todas as
manhas do seu jogo sujo...”. A educação de crianças, jovens e adultos pode tão
somente possibilitar-lhes desvendar os códigos presentes no mundo a ponto de
lhes dar condições de, caso queiram, ir à busca de uma consciência crítica.
Entretanto, me parece que um número cada vez menor de letrados em rede pública
ou privada torna-se sujeito crítico. O avanço da ciência e da tecnologia
facilita o acesso a uma quantidade maior de informações, porém, são informações
sem profundidade. Sabemos superficialmente de mais coisas e, ao mesmo tempo,
sabemos muito pouco sobre elas.
Num mesmo sentido, não podemos confundir consciência
crítica com consciência de classe, pois esta última depende do conhecimento do
indivíduo de sua posição dentro do processo de produção e é consequência da
crescente luta política entre burgueses e trabalhadores no interior da
sociedade capitalista. Portanto, a verdadeira consciência a qual os educadores
dos filhos de trabalhadores deveriam almejar que estes atingisse, a consciência
de classe, não é fruto simplesmente da presença deles na escola.
Dessa forma, conclui-se ser inócua a crença de que o
processo educacional, da maneira como é praticado, seja suficiente para
libertar o indivíduo das amarras que o relegam às sombras e não o permitem
compreender quem de fato são seus inimigos e que a sua liberdade total – ou ao
menos, a melhoria de sua vida – depende da luta coletiva contra esses inimigos.
Posto que, no máximo, esse processo pode desnudar a realidade em que se vive,
mas não aponta as condições para a sua superação. Além do mais, trata-se de uma
educação que parte do pressuposto de que é necessário transportar conteúdos e
anseios sociais das melhores escolas privadas – de ricos – para as escolas de
pobres. Ora, os ricos não estão muito preocupados em superar o status quo
vigente. Essa lógica, baseada na educação cidadã (todos são iguais perante a
lei), não nos serve, pois não se pauta pelo critério de classe, este, sim,
imprescindível num processo educacional transformador que leve em conta a
desigualdade social.
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