segunda-feira, 23 de março de 2015


REALIDADE E ILUSÕES SOBRE A EDUCAÇÃO LIBERTADORA E OS FUTUROS ENFRENTAMENTOS DOS EDUCADORES COM O ESTADO

Teones França – Historiador  (17/12/2014)

 


(Parte I/II)

 

Fico apreensivo quando observo educadores caracterizarem a educação como libertadora, sob o ponto de vista do senso comum, ou seja, entendendo que ela possa libertar social e/ou economicamente.

Deixo claro, de antemão, de que maneira considero esse termo aceitável: na lógica original de Paulo Freire, cuja concepção prevê que o processo de educação pressupõe tanto a etapa de desvelamento de uma realidade quanto a prática de transformação desta. Introduzo essa discussão aqui apenas como uma análise prévia para apresentar pequena contribuição a respeito da atualidade da educação pública de 1º e 2º segmentos, em especial no que tange às escolas estaduais do RJ; e possíveis táticas de enfrentamento com os governos para o próximo período.

                “Estude para ser alguém na vida”. Ainda vemos professores aconselhando assim seus alunos. Crer que a educação possa libertar economicamente é risível diante da extrema competitividade no mundo atual, onde o mercado de trabalho é um gargalo estreito, mesmo para os diplomados. Foi-se o tempo em que “canudo” significava ascensão social”.

                É ilusória também a crença na libertação social através dessa educação. Muitos dizem que ela pode desenvolver a consciência crítica nos indivíduos. “Depois de 20 anos na escola, não é difícil aprender todas as manhas do seu jogo sujo...”. A educação de crianças, jovens e adultos pode tão somente possibilitar-lhes desvendar os códigos presentes no mundo a ponto de lhes dar condições de, caso queiram, ir à busca de uma consciência crítica. Entretanto, me parece que um número cada vez menor de letrados em rede pública ou privada torna-se sujeito crítico. O avanço da ciência e da tecnologia facilita o acesso a uma quantidade maior de informações, porém, são informações sem profundidade. Sabemos superficialmente de mais coisas e, ao mesmo tempo, sabemos muito pouco sobre elas.

                Num mesmo sentido, não podemos confundir consciência crítica com consciência de classe, pois esta última depende do conhecimento do indivíduo de sua posição dentro do processo de produção e é consequência da crescente luta política entre burgueses e trabalhadores no interior da sociedade capitalista. Portanto, a verdadeira consciência a qual os educadores dos filhos de trabalhadores deveriam almejar que estes atingisse, a consciência de classe, não é fruto simplesmente da presença deles na escola.

                Dessa forma, conclui-se ser inócua a crença de que o processo educacional, da maneira como é praticado, seja suficiente para libertar o indivíduo das amarras que o relegam às sombras e não o permitem compreender quem de fato são seus inimigos e que a sua liberdade total – ou ao menos, a melhoria de sua vida – depende da luta coletiva contra esses inimigos. Posto que, no máximo, esse processo pode desnudar a realidade em que se vive, mas não aponta as condições para a sua superação. Além do mais, trata-se de uma educação que parte do pressuposto de que é necessário transportar conteúdos e anseios sociais das melhores escolas privadas – de ricos – para as escolas de pobres. Ora, os ricos não estão muito preocupados em superar o status quo vigente. Essa lógica, baseada na educação cidadã (todos são iguais perante a lei), não nos serve, pois não se pauta pelo critério de classe, este, sim, imprescindível num processo educacional transformador que leve em conta a desigualdade social.

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