“Eh, ô ô,
vida de gado”.
“Patrão, o
trem atrasou”.
Teones França –
Historiador (10/01/2015)
Um dos sucessos do carnaval de 1941 no Rio de
Janeiro, a marchinha-súplica “Patrão, o trem atrasou / Por isso estou chegando
agora... / o senhor não tem razão pra me mandar embora!” indicava que era comum
para o trabalhador já naquela época chegar atrasado ao trabalho por culpa do
serviço mal prestado por esse meio de transporte.
Passados mais de setenta anos, os trens seguem
causando muitos transtornos aos que necessitam utilizar os vagões que andam
sobre trilhos. Atrasos, superlotação, panes corriqueiras no meio do trajeto,
veículos mal conservados são apenas alguns dos problemas enfrentados pelos
passageiros, em sua maioria absoluta pobres, no caminho de casa ao trabalho,
numa verdadeira aventura a bordo desses caixotes de ferro e aço.
Conseguir chegar em casa apenas um pouco mais cansado
do que estava após largar o “batente” cerca de três horas antes já é algo a ser
comemorado, pois, como comprova o acidente do dia 5 de janeiro, ao se utilizar
o transporte ferroviário existe a possibilidade concreta de sair-se gravemente
ferido e pôr a vida em risco. Naquele dia, duas composições de trens da SuperVia
bateram em Mesquita, sendo que uma delas estava parada!!! Um saldo de mais de
duzentos feridos e muita reclamação pela demora no atendimento às vítimas. Além
da dor física, muitos dos acidentados, sem proteção, ainda tiveram seus
pertences roubados por aproveitadores. Uma triste e lamentável cena de horror.
Até alguns anos atrás se culpava o mau serviço prestado
nos trens pelo fato de ele ser estatal. Após a sua privatização, além de
algumas maquiagens realizadas pela concessionária vencedora (hoje, a Odebrecht,
sempre ela, detém a maior parte do capital do grupo), nada se alterou, ou
melhor, alterou sim: o dinheiro arrecadado vai parar agora, sob a forma de lucro,
nas mãos de poucos afortunados
O transporte sobre trilhos, que seria uma ótima
válvula de escape para o caótico sistema rodoviário brasileiro, segue sendo
secundarizado em benefício dos grandes “tubarões”, donos das empresas de
ônibus. Enquanto as tarifas aumentam mais do que a inflação anunciada, o
serviço oferecido nos veículos sobre rodas também deixa muito a desejar, com
frotas obsoletas, manutenção mal feita e poucos coletivos com ar-condicionado.
Obviamente,
quem mais sofre com essa situação é a população mais carente que, como sempre, é
tratada feito gado pelas autoridades públicas brasileiras. Alguns, mais
coniventes, dirão: “mas, existem várias opções de transporte para o pobre!”. É
verdade, vamos a elas: tem-se a alternativa de viajar no desconforto de ônibus
calorentos e apinhados de gente, trafegando a 10 km/h nos cada vez mais
extensos congestionamentos cotidianos; há também a opção de sofrer num trem
igualmente desconfortável, ensaiando para voltar na próxima encarnação como
sardinha enlatada; e, por fim, existe ainda a escolha mais recomendada pelos
nossos políticos, por ser a mais saudável: atravessar as rodovias de bicicleta.
Contudo,
apesar de “marcado”, seguimos sendo um povo feliz. (Até quando?).
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