APÓS A MASSIFICAÇÃO ELEITORAL, O QUE
ESPERAR DE MAIS QUATRO ANOS COM O PT NO GOVERNO?
Teones França –
Historiador (4/11/2014)
(PARTE II / III)
A falsa polarização PT-PSDB
A mídia em especial tentou estabelecer uma falsa
polarização no país a partir do cenário eleitoral, apontando um fosso entre os
dois projetos representados pelos candidatos concorrentes. Nada mais irreal.
Aliás, nem no pleito inicial poderíamos afirmar categoricamente que a proposta
personificada pela candidatura Marina Silva fosse tão destoante das propostas
de Dilma e Aécio. Outras polarizações vivenciadas pelo Brasil ao longo de sua
história política eram bem mais verdadeiras, como foi o caso dos embates entre
UDN e PTB nos anos 1950, e entre ARENA e MDB nos quinze primeiros anos da
ditadura militar.
Exageros polêmicos foram apresentados pelos dois
lados. Vamos a alguns deles. O lado petista tentou vender a imagem de que
estava em pauta uma disputa entre pobres e ricos. Se isso fosse realmente
verdadeiro, Dilma teria vencido com uma larga margem de diferença, tamanha é a
desproporção entre pobres e ricos no país. Por outro lado, é fato que a elite
brasileira se sente – ou se sentiria – mais segura com o PSDB no governo, pois
se trata de uma legenda composta quase que em sua totalidade pelos setores
vinculados à burguesia. Ademais, também é fato que nos governos em que o PT
esteve à frente os empresários e banqueiros se locupletaram bastante, como
“nunca na história deste país”.
Os aecistas ficaram roucos de tanto repetir que os 12
anos petistas na presidência foram os mais corruptos já vividos no Brasil. O
candidato chegou até a afirmar que para acabar com a corrupção no país bastaria
tirar o PT do governo. Caso possuíssemos um corruptômetro poderíamos até
verificar se tal afirmação condiz de fato com a verdade. No entanto, pouco
importa descobrirmos quem mais causou prejuízo aos cofres públicos brasileiros
se temos a certeza de que o mesmo grupo que está ao lado de Aécio compôs o
governo FHC, período em que casos de corrupção envolvendo rombos no erário não
faltaram, sendo, inclusive, destacados à época pela mídia. Alguns deles: a
compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição no Congresso Nacional;
os problemas de transparência no contrato para a execução do projeto do Sistema
de Vigilância da Amazônia (SIVAM); a enorme contribuição ao capital financeiro
com o PROER, programa que socorreu financeiramente os bancos que foram à
falência em 1995; tudo isso sem que precisemos mencionar as denúncias de
corrupção no Metrô de São Paulo (governado pelo PSDB) e que as origens do
Mensalão petista estão num governo desse partido em Minas Gerais.
Assim como ocorreu em 2010, os correligionários de
Dilma desferiram ataques ao candidato oponente acusando ele e seu partido de
terem entregado diversas empresas estatais à iniciativa privada. Diante de
acusação incontestável, raramente vimos os psdbistas defendendo o programa de
privatização do governo Fernando Henrique Cardoso. Isso porque parcela
considerável da população brasileira tornou-se crítica às privatizações após
realizar a experiência com os serviços públicos entregues às empresas privadas
que, apesar de caros, continuam de péssima qualidade.
Entretanto, é falsa a afirmação de que os governos
petistas não colocaram em prática esse tipo de política. Denominando
privatização de “concessão”, Lula e Dilma entregaram diversas rodovias ao
capital privado. Portos e aeroportos vão pelo mesmo caminho. Com as Parcerias
Público Privadas garantem financiamento público para serviços a serem tocados
pelo setor privado, como as obras do Programa de Aceleração para o Crescimento.
Quanto ao Bolsa Família, todos queriam ser o “pai da
criança”, e, nesse ponto, ambos tinham razão. O PT distribuiu o benefício a
milhões de famílias, unificando várias Bolsas que haviam sido criadas por FHC
em uma única. Resta a dúvida, porém, se pleitear a paternidade de um filho
desses seja algo a se orgulhar, apesar dos votos que ele traz consigo, ainda.
Portanto, em que pese as “viúvas do PT” (seus
ex-militantes) terem, mesmo que de maneira contrariada, votado em Dilma no
segundo turno, não há nada mais falso que a ideia de que havia dois projetos
distintos se confrontando nesse pleito. Do mesmo modo, também não é verdadeira
a tese que identificava o programa de Aécio como liberal e o de Dilma como de
viés estatizante (neodesenvolvimentista talvez fique mais pomposo). Ambos eram,
e são, liberais e têm como objetivo número um a manutenção dos privilégios dos
grandes empresários e banqueiros – não foi à toa que esses grupos fizeram
doações para ambas as campanhas. A divergência quanto a autonomia ou não do
Banco Central era pura questão de semântica. O PT pode até ter um furor maior
sobre o controle da máquina estatal, mas nada que faça com que esse controle se
reverta num projeto de desenvolvimento para o país.
Sendo assim, muito rancor foi despejado por muito
pouco já que o novo governo Dilma não será tão diferente do que seria um
possível governo Aécio.
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