REALIDADE E
ILUSÕES SOBRE A EDUCAÇÃO LIBERTADORA E OS FUTUROS ENFRENTAMENTOS DOS EDUCADORES
COM O ESTADO
Teones França –
Historiador (17/12/2014)
(Parte
II/II)
O que para
os trabalhadores e seus representantes deveria ser uma educação pública de
qualidade? Repetimos isso como um mantra há anos, mas sabemos de fato o que
queremos ao erguer essa bandeira? Será que a lógica marxista de combinar
instrução, ginástica e trabalho produtivo está presente aí? Talvez o debate de
anos travado na Escola Politécnica (conceito esboçado inicialmente por Marx) da
Fiocruz a respeito dessas questões possa ajudar bastante.
No entanto, parece-me que essa e outras discussões a
respeito da educação são por nós geralmente desprezadas. E, assim, não
realizamos o debate e nos abstemos de disputar a consciência dos educadores
sobre essas questões. A impressão que fica é que o único ponto de pauta
presente em nossas assembleias é a deflagração ou não da greve. Pouco importa
debater com o conjunto dos educadores a implantação de uma educação para os
filhos dos trabalhadores. Com isso, apenas as propostas governistas adentram os
portões das escolas públicas e temos que nos virar para questioná-las.
Quanto à
educação na rede pública estadual, ao que se reduziu? Com seus currículos mínimos,
objetivando padronizar por baixo os conteúdos para facilitar a melhoria dos
resultados nas provas do governo federal e, consequentemente, o crescimento do
índice do estado no Ideb; com suas políticas de meritocracia, meras “cenouras”
postas à frente dos educadores para que corram com mais afinco despejando no
dia a dia as estratégias medíocres do secretário de educação de plantão; com
seus números reduzidos de funcionários, obrigando os mestres a se desdobrarem
em diversas funções e transformando as escolas em reles depósitos de crianças
que, supostamente, estudam enquanto seus pais vão ao trabalho.
O que
faremos diante dessa realidade? O de sempre? Ou seja, greve para tentar
recuperar nossas perdas salariais e questionar os projetos mirabolantes postos
em prática em todo início de governo? Sem contar que nem apresentamos em
contrapartida um projeto alternativo.
Acho que a
greve segue sendo a principal tática de luta e resistência dos trabalhadores,
mas é necessário secundarizá-la em alguns momentos, como este, para não desgastá-la.
As greves de pouca adesão dos últimos anos (na rede estadual-RJ) e os parcos
resultados obtidos afastaram ainda mais os educadores, temerosos com o corte de
ponto e outras arbitrariedades. É salutar que analisemos bem a conjuntura do
momento e paremos com a dicotomia greve
ou peleguismo. Utilizar em dados momentos (como o próximo ano) outras
formas de luta pode se mostrar mais adequado. Lembremos que no auge da luta
sindical no Brasil nos anos 1980 novas formas de luta (greve cera, greve da
vaca doida etc.) foram criadas com o objetivo de tornar a luta mais eficiente.
O boicote
ao currículo mínimo deve voltar à baila. Não podemos aceitar a perda de nossa
autonomia em decidir quais conteúdos devem ser ministrados. Consequentemente,
debater em cada escola a necessidade de virarmos as costas para as tais provas
governamentais que não servem para nada além de elevar o índice do estado no
Ideb. É necessário dar mais ênfase à crítica à meritocracia, conceito que é bem
aceito no conjunto da sociedade.
No mesmo
sentido, uma campanha pelo não lançamento de notas no sistema on line também
deve ser implementada. Se o governo se recusa a realizar concurso para
funcionários, se não há secretários nas escolas a culpa não é nossa. Por que
aceitarmos “adiantar aula” quando falta um colega? Por que não denunciarmos com
mais competência as (várias) turmas nas escolas que passam o ano inteiro sem
professores de diversas disciplinas?
Devemos
também propor a recusa em aprovar aluno que não tenha rendimento suficiente.
Chega de “empurrar” aluno para outra série porque o governo quer diminuir o
índice de evasão e repetência. Ao final do ano, com um índice de reprovação condizente
com o real poderemos divulgar que “essa é a verdadeira realidade da educação no
estado”.
É verdade
que essas propostas – e outras de orientação parecida – não são novas, mas a
sua ênfase em momento tão frágil quanto o atual pode ser o possível a ser feito
e, se bem feito, representar um passo importante na destruição por dentro da
política governamental.
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