segunda-feira, 23 de março de 2015


DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS AMEAÇADO.

É só uma prévia dos ataques aos trabalhadores no 2º governo Dilma.

 

Teones França – Historiador    (1/12/2014)

 

            No dia 11 de novembro último o relatório do Senador Romero Jucá (PMDB-RR), que trata da regulamentação do direito de greve dos servidores públicos, foi aprovado na Comissão Mista do Senado e agora seguirá para debate e aprovação no Congresso Nacional. Essencialmente, o texto busca impedir uma ação grevista vitoriosa por parte desses trabalhadores, mas, apesar disso, foi elaborado após a realização de diversas reuniões com representantes de sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais, como ressalta o próprio relator. Resta saber se essas entidades concordam com o resultado final do relatório ou se empreenderão campanhas nacionais contra a sua aprovação.

            O argumento central de Jucá para justificar a sua proposta perpassa pela diferenciação que julga existir entre trabalhadores dos setores público e privado. Em sua visão, no setor público não há oposição entre capital e trabalho, mas sim entre o Estado e seus servidores. Ou seja, entre os servidores públicos e o seu empregador não há luta de classes, mas apenas conflitos que podem ser resolvidos de maneira amistosa. Creio que nem precisemos resgatar Marx para contra-argumentar ao relator que não existe Estado neutro, tendo em vista que este sempre está – e esteve ao longo da história – preocupado em defender os interesses dos setores dominantes.

Ainda segundo Jucá, por tratar-se de serviços de atendimento ao público não lhes deve ser permitido o abandono total das funções oferecidas à população. Convenhamos que essa última questão possui um enorme apelo popular.

            Sendo assim, a proposta permite a greve aos servidores, mas impõe, em caso de sua deflagração, que 60% do total de funcionários permaneçam trabalhando nos serviços considerados essenciais, e 40% nos demais serviços. Ou seja, permite-se que se exerça o direito de greve desde que ela não aconteça. Ora, se é justamente a paralisação total do serviço oferecido à população que torna uma greve forte, como torná-la vitoriosa quando mais da metade do quantitativo de funcionários são obrigados a não aderi-la? Como realizar a pressão sobre o empregador quando a população praticamente não sente os efeitos da paralisação? É, definitivamente, a cassação do direito de greve aos funcionários públicos.

            Além do mais, a proposta aponta vinte e três serviços a serem considerados como essenciais! Dentre eles: serviços de emergência hospitalar e atendimento ambulatorial; tratamento e abastecimento de água; captação e tratamento de esgoto e lixo; vigilância sanitária; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; segurança pública; defesa civil; controle de tráfego aéreo; transporte coletivo; serviços judiciários; e serviços de educação infantil e ensino fundamental. Ainda veda o direito de greve aos membros das Forças Armadas, das Polícias Militares e do Corpo de Bombeiro Militar.

            O Judiciário, por sua vez, terá o poder de acabar com a greve assim que as determinações impostas não forem atendidas pelos trabalhadores. A suspensão do pagamento de salários também poderá ocorrer imediatamente após o início da atividade grevista independentemente do cumprimento das exigências pré-determinadas.

            Até a Constituição de 1988, o direito de greve no Brasil não existia ou, em alguns momentos, foi concedido apenas aos trabalhadores da iniciativa privada. A proposta que será encaminhada ao Congresso é, portanto, um retrocesso diante do que estabelece nossa última Constituição e está bem aquém do que sugere a OIT no que se refere às relações entre governos e servidores público. Porém, esse é apenas a ponta do iceberg dos ataques que serão desferidos aos trabalhadores no segundo governo Dilma. O PT e a presidente terão que fazer concessões à burguesia para seguirem se credenciando como fiéis defensores da ordem do capital, posto que ficou um tanto ameaçado com as últimas eleições. É bastante provável que as tão propaladas Reformas (tributária, trabalhista etc.) se avizinhem num futuro próximo, o que, certamente, significará mais ataques ao conjunto dos trabalhadores.

Esse cenário só não se concretizará caso o PT necessite novamente de apoio dos movimentos sociais como contrapartida a possíveis ataques da burguesia ao seu governo. Contudo, apesar das críticas que possam realizar ao governo aqui e ali, os burgueses seguem bastante contentes com seus lucros como nunca antes na história desse país.

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