quinta-feira, 5 de junho de 2014

A PÁTRIA DE CHUTEIRAS! COPA DO MUNDO DE FUTEBOL E POLÍTICA: UMA RELAÇÃO HISTÓRICA (PARTE 5 / 5)



Teones França (Historiador)

 
O “padrão-Fifa”: política + futebol = $$$$$$$

Vimos, assim, que política e futebol sempre andaram de mãos dadas e, ao contrário do que pensam os ingênuos, há muito mais coisas envolvidas numa partida de futebol do que entretenimento. Oitenta e quatro anos depois da disputa do primeiro Mundial, o campeonato de futebol aterrissa em terras brasileiras novamente, apresentando um cenário que demonstra muitas continuidades com o que era observado na década de 1930: o racismo ainda está presente em muitos estádios de futebol mundo afora, dando mostra de que esse esporte é um espelho que reflete valores contidos na sociedade. Não é de estranhar que o ideal nazista ainda encontre seguidores, como o jogador da seleção croata, Josep Simunic, suspenso pela Fifa por dez jogos sob a acusação de ter entoado cânticos hitleristas após a classificação de sua seleção para o mundial deste ano e, por isso, está fora da copa.
 

De microfone em punho e braço esquerdo erguido, após a classificação croata para a copa 2014 Simunic grita slogans nazistas: “pela Pátria!” e “preparados!”.

 
Da mesma maneira, quando ouvimos o técnico de nossa seleção, Luís Felipe Scolari, afirmar que seus comandados têm que entender que jogam por um país inteiro, chegamos à conclusão de que o ideal da “pátria de chuteiras” também segue tendo continuidade. A existência de leis estaduais que obrigam a execução do hino nacional antes de partidas de futebol indica o mesmo e, diferente do que dizem os que as defendem, o seu principal objetivo não é ensinar a letra à população – se assim o fosse o hino teria que ser executado antes da novela das nove, evento cotidianamente de maior audiência – e sim, aos nossos jogadores.

O que mudou bastante em comparação às primeiras copas foram os gastos para a sua realização. A copa do mundo do Brasil será a mais cara da história. Apenas em estádios deve-se gastar mais de dez bilhões de Reais, enquanto a Alemanha, em 2006, gastou a quarta parte desse valor. No total a gastança deverá atingir valor superior a trinta bilhões, sendo que mais de 90% desse montante terão saído dos cofres públicos. No entanto, se estes ficarão vazios, os bolsos de empreiteiras e da própria Fifa ficarão abarrotados de dólares. O legado da copa de 2014 beneficiará poucos privilegiados.


Para um reduzido grupo de pessoas (Fifa, donos de times, jogadores de ponta, TV’s, patrocinadores) o futebol é cada vez mais rentável, alimentado pela paixão de milhões de pessoas carentes

 É contra essa farra com o dinheiro público que manifestações públicas acontecem desde o ano passado no Brasil. O governo já escolheu sua estratégia: criminalizar os participantes desses atos como se estivessem cometendo um crime contra a pátria e não lutando a favor dela. A presidente, por seu turno, certamente torcerá pela vitória de nossa seleção para acalmar os manifestantes e associar a conquista à sua gestão, o que lhe facilitará a reeleição em outubro próximo. Para isso, conta com seus exércitos, dentro de campo – para conquistar a taça – e fora – para calar os manifestantes.

 

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