Apesar da truculência de Alckmin, metroviários/SP indicam a melhor tática para vitórias.
Diferentemente do ano passado, o outono de 2014 trouxe
lutas organizadas de maneira mais tradicional e várias greves são deflagradas
pelos sindicatos nas principais cidades do país. Insufladas por uma nova
reorganização do sindicalismo – na qual bases de diversas categorias atropelam
direções sindicais – essa onda grevista que se espalha pelo Brasil tem, no
entanto, o mesmo motivador principal que originou as jornadas de junho em 2013:
a Copa do mundo.
O descontentamento gerado pelo desperdício do
dinheiro público destinado à construção de estádios de futebol e obras que
facilitarão, prioritariamente, o acesso dos visitantes do aeroporto aos seus
hotéis e aos locais de competição tem sido o elemento determinante para trazer
a classe trabalhadora de volta à sua tradição de luta organizada como há tanto
tempo não se via. Se não há mais dúvida de que haverá Copa, também é
inquestionável que esta será conhecida futuramente como a Copa das lutas. Dessa
forma, para que ela não seja vencida apenas pelos empreiteiros, pelos grandes conglomerados
empresariais e pela Fifa, que lucrarão de maneira absurda com o evento, é fundamental
que os trabalhadores busquem a unidade, pois somente assim será possível
sagrarem-se vencedores também.
Pressionados pela Fifa e escaldados após as
manifestações ocorridas no ano passado, os governos e a burguesia brasileira
souberam se preparar previamente para enfrentarem as lutas que sabiam que despontariam
nesse momento. Alteraram leis, aumentaram o efetivo de repressores fardados nas
ruas, mantêm-se inflexíveis diante das reivindicações dos trabalhadores e obtiveram
o apoio incondicional da Justiça do Trabalho, que finalmente mostra que é um mero
sustentáculo dos governos e do grande capital. Demonstrando que estão em
plantão diuturno, nossos magistrados estão atentos para logo após a deflagração
de uma greve decretá-la abusiva, garantindo a “legalidade” da truculência dos
governos e da repressão contra os trabalhadores.
A recente greve dos metroviários de São Paulo
exemplifica isso de maneira muito nítida. A divergência entre a solicitação de
reajuste dos grevistas e o índice oferecido pelo governo do estado é ínfima,
mas este não pode ceder, pois o caminho da luta se tornaria um modelo a ser
seguido por outras categorias, o que precisa ser impedido pelos governantes. Ao
contrário, além de toda a repressão na tentativa de conter as manifestações dos
metroviários, o governador Alckmin demitiu, no último dia 9, cerca de 45
grevistas por justa causa, utilizando-se de critérios como mínimo questionáveis,
mas contando com toda a complacência dos juízes.
Mais uma vez tivemos a confirmação de que a
lei de greve é mais uma das existentes no Brasil apenas para permanecer no
papel. Todas, ainda no início, são consideradas abusivas, embora na maioria dos
casos governos e patrões não tenham cumprido com o que reza a nossa
Constituição, concedendo reajustes salariais anuais. Os ditos “serviços essenciais”
então sofrem ainda mais, pois são tantas as exigências existentes na
regulamentação dessa lei que, caso as sigam integralmente, os trabalhadores
desses setores nunca realizarão uma greve de fato.
Na atual
greve, os metroviários paulistas fizeram uma contraproposta ao governo para que
a paralisação não prejudicasse a população – crítica primeira feita por Alckmin
e todos os governantes que se vêem às voltas com um movimento grevista.
Sugeriram retornar ao trabalho, porém com as catracas liberadas para que os
usuários viajassem gratuitamente. O governo, claro, recusou a proposta, sob o
argumento de que “o Metrô é uma empresa e, como empresa, precisa ter equilíbrio
financeiro”. Em outras palavras, o lucro tem primazia sobre o conforto da
população trabalhadora, a que necessita realmente do transporte público.
Uma greve,
mesmo que se torne vitoriosa, não melhorará significativamente a vida dos
trabalhadores, que pouco tempo depois perceberão a necessidade de realizar
outro movimento grevista para novamente conquistar melhorias salariais.
Contudo, a greve é o momento privilegiado para escancarar as contradições e os limites
do sistema capitalista ao expor sem tergiversações os dois campos antagônicos
nessa sociedade: de um lado, os trabalhadores e, de outro, os patrões,
auxiliados pelos governos e pela justiça. Nesse cenário, caso não lute, o
trabalhador não obterá avanços trabalhistas.
Categoria
de destaque no bojo do que se tornou conhecido como “novo sindicalismo” na
década de 1980, os metroviários já eram inovadores em suas formas de luta naquele
momento. Na greve de 1990, no Rio de Janeiro, enfrentando o autoritário governo
de Moreira Franco, implementaram o que eles próprios denominaram como “Operação
roleta livre”. Num dia inteiro, os grevistas bancaram liberar a passagem de
todos que quisessem fazer uso do serviço do Metrô, numa operação que contou com
um diretor do sindicato responsável por cada estação, 14 trens circulando e o
trabalho integral de todos os funcionários. O objetivo era conquistar o apoio
da população, tão difícil de ser obtido em greves do serviço público.
Nesse dia,
250 mil pessoas viajaram de graça, configurando um grande sucesso dessa
atividade. De acordo com o presidente do sindicato na ocasião, Geraldo Cândido,
na assembleia em que se decidiu a utilização dessa tática foi dito o seguinte
para os participantes: “nós vamos assumir a empresa e nós vamos distribuir o
produto para a população”, o que em sua opinião seria algo análogo “à
apropriação dos meios de produção” pelos trabalhadores.
Ao
resgatarem essa tática de luta na atual greve na capital paulista, os
metroviários contribuíram duplamente. Por um lado, indicaram que é salutar
buscar nas experiências vivenciadas ao longo da história da classe trabalhadora
ensinamentos para as lutas contemporâneas e, por outro, expuseram as
contradições e hipocrisias do governo burguês de plantão, forçando-o a retirar
sua máscara de mantenedor do bem-estar de todos e mostrar sua verdadeira face
de garantidor dos interesses do grande capital.
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