terça-feira, 26 de agosto de 2014

QUAL É O PAPEL DOS SOCIALISTAS NAS ELEIÇÕES?

Parte I/II
Teones França – Historiador  (25/8/2014)


          Já indiquei considerar como a melhor tática para os socialistas nestas eleições a defesa do voto nulo, especialmente porque creio que haja um grau de experiência acelerado de grande parte da população brasileira com as instituições burguesas, o que, de certa forma, ficou patente com as jornadas de junho no ano passado e a quantidade de votos nulo, em branco e abstenções nas últimas eleições.
Esse descontentamento com as eleições, apesar de progressivo, tem como origem o pensamento atrasado de se considerar todos os políticos iguais e, portanto, todos são corruptos e só estão preocupados com o crescimento de seus patrimônios pessoais. Está nas mãos dos socialistas a tarefa de aprofundar essa descrença indicando que devemos, sim, virar as costas paras as eleições, mas por outra razão: porque elas são um processo ilusório burguês e não resolvem os nossos problemas sociais, pois estes só serão resolvidos através da luta. Agindo dessa forma contribuirão para evitar, inclusive, que esse descontentamento acabe sendo canalizado para uma via de direita que defenda um governo ditatorial de imposição da ordem, como Le Pen na França.
Desde já é preciso ratificar que participar ou não desses pleitos, assim como ter candidatos ou defender voto nulo, é algo meramente tático e a melhor tática a ser utilizada dependerá da conjuntura de cada momento. Contudo, o importante para os socialistas é ter claro que não podem passar a ilusão para o conjunto dos trabalhadores de que as eleições resolverão os seus problemas ou mesmo os reduzirão. Sua participação nesses processos é importante para acirrar as contradições do sistema, fazer avançar a consciência de classe dos trabalhadores, contribuindo para que reconheçam que a melhora real de suas vidas depende de sua luta no cotidiano contra os patrões e os governos defensores do capital. Nessa lógica, eleger algum parlamentar pode fazer avançar essa experiência desde que ele ponha o seu mandato a serviço da luta coletiva e não de ações individualistas/personalistas que divulgam apenas o seu nome.
Se existe um espaço enorme em nossa sociedade para as propostas conservadoras dos Bolsonaros de plantão, também há um setor considerável – em geral, na classe média – que ouve com atenção os discursos da esquerda menos radical e isso, logicamente, rende votos. Daí o perigo de se evitar as propostas classistas para obter um bom desempenho eleitoral.
Infelizmente, não temos visto na atual campanha eleitoral algo que o PT fazia bem no início dos anos 1980: a diferenciação de classe. Naquele momento era normal observarmos nas campanhas o slogan “Trabalhador vota em trabalhador”, que acabou sendo recriado com sucesso pelo PSTU vinte anos depois com o “Contra burguês, vote 16”. Mesmo que o impacto na consciência dos trabalhadores não tenha se revertido numa quantidade elevada de votos, ao menos a iniciativa foi positiva por conseguir sintetizar em poucas palavras de fácil entendimento a ideia de que a luta de classes permeia a nossa sociedade capitalista.
Porém, o pior de tudo é que, como se previa, os socialistas, mesmo que de forma indireta, acabam nesta campanha fazendo a defesa do voto em si, o que termina por representar a defesa do sistema eleitoral como um todo. Todos, unanimemente, dizem “votem em mim e no meu partido”, ou seja, todos convidam o trabalhador a resignadamente depositar o seu voto na urna tal e qual faz qualquer candidato burguês.

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